segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pontes

Essa quarentena está levando mais tempo do que eu imaginava, ou até mesmo gostaria.
É como ter um joelho ralado. Você nem lembra dele até que a água quente escorra sobre ele. É como ter uma bússola dos desejos que aponta para o nada.

As luzes da cidade se acenderam e se apagaram, e eu continuo sentada na calçada à espera de algum lampejo de alguma coisa.
Está aí outro contra de crescer.
Chega um momento que você tem que soltar as mãos dos seus pais e atravessar a rua sozinho para chegar aonde você quer. Eu já soltei as mãos deles, mas ainda tenho dúvidas quanto a hora certa de atravessar. Não por não saber como fazê-lo ou algo do gênero. Mas sim por uma euforia que se mistura com o medo do que me espera do outro lado.
Medo por saber que eles nunca atravessarão em minha direção. Eles chegaram o mais longe possível, porém agora há um limiar intransponível prestes a se interpor entre nós, a espera unicamente do toque do meu tênis no asfalto. Medo por ter de abrir mão da fácil indulgência concedida às crianças.
E eu me pergunto se vale mesmo a pena sair correndo no meio dos carros...
Quando crianças sempre fazemos projeções para nós mesmos. O problema é que chega um momento em que é necessário dar grandes passos para alcançá-las. É como uma dança na qual em algum momento você terá uma parte sólo. Por mais que você tenha ensaiado os passos, sempre dá um friozinho na barriga...
É nesse estágio em que eu me encontro estagnada.
Na verdade eu não sei se isso configura covardia ou algo natural da vida. O que eu sei é que eu nunca escrevi algo de cunho tão pessoal.
Talvez você tenha razão.
Talvez eu tenha construído muros ao meu redor ao invés de pontes. Mas acredite: meu distanciamento nunca foi proposital.
Eu acho que o meu problema é precisar estar sempre no controle da situação, segurando as rédeas, e isso me impede de ser 100% expontânea.
No fundo eu acho que eu gosto de me sentir envolta por algo, simplesmente porque despida de meus muros, eu me torno tão suscetível e vulnerável quanto qualquer outra pessoa, e essa sensação me incomoda, me amedronta.

Bem...ao menos parece que o primeiro tijolo eu já derrubei. Um avanço certo?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cada coisa em seu lugar



Eu tenho extrema relutância em me livrar de quinquilharias, e só o faço quando a situação é insustentável. O difícil não é abrir mão daquele amontoado de coisas velhas, mas sim das lembranças que cada um daqueles objetos traz à tona.



O que entulha meu armário é sempre meu passado. Ele não é de todo mal, mas ocupa muito espaço entre as minhas prateleiras. Entretanto, isso não torna o desvenciliar-se mais fácil.

É indubtável o quão é difícil soltar o passado e tudo o que o acompanha. O quão é duro se desvenciliar das mazelas, das impropriedades, dos complexos que adquirimos com o decorrer do tempo e que acabam por abarrotar nossas gavetas de sentimentos e medos que representam um verdadeiro atraso de vida.

A influência do passado faz com que fiquemos temerosos demais, faz com que pensemos demais, e nos poda demais, angariando para nós experiências de menos.

É aquela velha história: 'gato escaldado, tem medo de água'.

Obviamente que os erros que em algum momento cometemos, têm de servir de proteção, aviso, ou algo do gênero, afinal, cometer o mesmo erro duas vezes é estupidez.


Mas as experiências ruins que um dia você teve, não devem ser determinantes em suas relações e decisões. Se assim for, a vida pára. Não se renova, só rebobina.


Evidente que todo mundo tem passado e que este fator é o responsável por quem nos tornamos. Porém este pertence a um local longínquo, e é assim que deve ser mantido, com uma distância segura de cada um.

E para colocá-lo em seu lugar, nada melhor do que esvaziar o closet e se livrar de algumas quinquilharias, para que assim, você tenha espaço para as novas que virão.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tinta




Não me são necessárias muitas coisas nem pessoas.



Eu preciso de alguém que me enxergue além do reflexo nos estilhaços.

Alguém que me leia até o fim,

E não que pare no prólogo.

Eu quero alguém com quem eu possa ter conversas a caneta,

Aposentando assim, o grafite.

Quero um rosto que valha a pena idealizar,

Não outra máscara inexpressiva e inanimada.

Quero alguém que baste por si mesmo,

E Que seja imperecível,

Pelos menos enquanto for possível.





"There are many things that I would like to say to you but I don't know how...Because maybe,

you're gonna be the one that saves me, and after all, you're my wonderwall"
























Stop crying your heart out




Eu detesto a sensação de escrever sobre uma folha que já foi apagada.


Por melhor que seja a borracha, certas marcas e manchas do grafite sempre permanecem...




Eu acho que é hora de arrancar a folha, amassá-la e a descartar.

Vira a página. Parágrafo, letra maiúscula.








'Cause all of the stars

Have faded away

Just try not to worry

You'll see them some day

Take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out



Get up

Come on

Why are you scared?

You'll never change

What's been and gone' - Oasis.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cascas no chão



Vira e mexe eu ensaio monólogos em minha cabeça. Debato comigo mesma questões existenciais em seu âmago, sem o menor dos pudores, livre de qualquer preconceito que dê vasão ao 'politicamente correto'.

Nesses monólogos, enxergo a mim mesma com total nitidez, e às vezes, tanta sinceridade assusta.

Protelei um desses monólogos cujo o tema era justamente você. Pra falar a verdade, não sei ao certo o porquê de tanta relutância, mas tenho uma vaga ideia.

Acho que eu temi que a platéia me taxasse de Bentinho e me julgasse assim, com a mesma severidade que eu mesma julgo este casmurro.

Agora, depois de analisar os fatos com a cabeça fria e a maior imparcialidade possível, confesso que me encontro aliviada.


Não. Eu não fui o Bentinho. Muito menos a Capitu.


Talvez eu tenha sido Escobar, porém com um final menos trágico: não fui engolida pelo mar, embora meu corpo cansado pedisse por isso. Embora minha mente implorasse por se deixar levar.

Eu sempre repito que "ninguém é insubstituível", porém no íntimo, sempre estive convicta de que você representava a exceção a essa lei universal. Você sempre esteve por perto desde que eu me entendo por gente, e eu não sabia como era andar sem você para me segurar pela mão. Porém em meu julgamento percebi que você nunca o fizera por se preocupar comigo, mas sim para que eu fosse conveniente a você.


Tudo o que você fez por mim, não foi por mim, mas por você.



Há 8 meses atrás você era meu assunto favorito, minha música mais tocada. Você era único.

Seu nome foi rareando em minhas conversas. Os pesadelos com você antes constantes, foram tornando-se esporádicos até que por fim desapareceram. E hoje, 8 meses depois de todo aquele inferno cruel ao qual, de forma egoísta e sádica você me submeteu, se foi, tendo se tornado tão insignificantes quanto cascas no chão.

Você já não faz parte do meu repertório.


Você nunca foi o herói romântico. Você é o meu algoz, e te enfrentar me fez descobrir que eu não sou uma mera personagem secundária.


Eu sou a protagonista dessa história.


Enquanto você, só um capítulo inicial, antecedente aos inúmeros que virão e que trarão para mim um par não perfeito, mas que ao menos dignifique a tinta gasta pela caneta.



terça-feira, 3 de maio de 2011

Eis a questão



Chega a ser abismante a alienação que um misero par de fones de ouvido proporciona.

Pelo menos para mim, é como se eles fossem um tipo de isolantes do mundo real. Eles são os únicos capazes de me abstrair da realidade em torno.


Todo mundo tem vícios: álcool, culto ao corpo, cafeína, drogas...E eu não fujo a regra. Também tenho os meus...talvez não tão moralmente degradantes, porém também com consequências.


Eu sou uma cética bitolada para quem é impossível não pensar.


O ato de pensar me entorpece mais do que qualquer substância ilícita conseguiria, e as respostas achadas para as minhas infindáveis perguntas causam-me um êxtase indescritível...

Eu não consigo aceitar respostas prontas nem finjí-lo.

É claro que pensar com a própria cabeça tem vantagens, porém como tudo na vida também resulta em algumas desvantagens.

Às vezes eu escuto de uma querida amiga que por sinal adora filosofar comigo sobre questões existenciais nas aulas de química (não, esta não integra o grupo das minhas matérias prediletas), que o meu problema "é que eu penso demais..."


Acho que você tem razão minha cara.


Entretanto, eu acho um preço justo a se pagar, afinal, não dá pra fazer omelete sem quebrar os ovos. É impossível adquirir unicamente um lado da moeda. Se a moeda vale a pena, você terá que carregar consigo a cara e a coroa. Não dá pra escolher um lado e arrancar o outro.

E de certa forma, eu não vejo nenhuma vantagem na abstinência de sinapse.


A única diferença de nós para os outros quadrúpedes do mundo animal é justamente a capacidade de pensar (esse é o quesito que nos difere de um lêmore).

Portanto, devemos aproveitar essa dádiva, e não derramá-la no ralo, e esperar que ela escoe.

Aliás, quão bom seria se ao menos a maioria das pessoas usa-se pelo menos 25% da capacidade cerebral...O mundo seria tão melhor...


"A maioria não pensa.

E quem pensa não fala." - Vanessa Martins