segunda-feira, 18 de julho de 2011

'Gostei desse olhar'

Domingo de julho, em meio ao inverno, quem diria: uma trégua de sol e céu límpido.
"A vida merece ser vivida", e visto que concordo categoricamente com tal afirmação, jamais me permitiria desperdiçar uma tarde como a de ontem por permanecer enclausurada em um caixote por aí.
E já que disponho de uma metrópole como a cidade de São Paulo, nada mais natural do que aproveitá-la. Foi exatamente isso o que fiz.
Há tempos que eu protelava um contato mais corpo a corpo com sampa, e visto que era necessário começar por algum lugar, escolhi desbravar elas: a praça da República no centro e o bairro da Liberdade.
E foi justamente em meio a minhas andâncias na primeira citada que deparei-me com tal senhor: óculos escuros, barba rala, franzino, sério, completamente aéreo pareceu nem se dar conta de minha aproximação (ou talvez tenha apenas ignorado-me), enquanto guardava os pedaços de grafite no pequeno estojo. Percebendo que esperar por um 'pois não' seria tão ineficiente quanto tentar tirar leite de pedra, lhe estendi um 'boa tarde', imendando uma pergunta que agora não me recordo ao certo. Lembro que entre outras coisas ele me disse que demorava em média 20 minutos, e após tentar -inutilmente- me desencorajar com o preço, informou-me que já estava de saída. Acho que a decepção que estampou meu rosto foi tamanha que ele decidiu abrir uma exceção.
Fez sinal para que eu me sentasse no minúsculo banco verde a sua frente, tendo em seguida fitado minha amiga com certo desdém lhe atirando um amistoso "agora deixe-nos a sós para que possamos nos concentrar".
Ele olhou no relógio e murmurou algo quase inaldível sobre perder o jogo do Brasil. Pegou a tela, empunhou o grafite, e depois de me dar uma série de comandos soltou um "gostei desse olhar".
Fiquei ali, petrificada. Contive até mesmo minha respiração, com medo de que um leve arfar prejudicasse o produto final.
Ele assobiava e cantarolava algum samba antigo que eu não reconheci, enquanto rabiscava a folha mais rápido do que eu poderia acompanhar. Cada vez que algum curioso se debruçava sobre a tela, ele a escondia, com um risinho de criança levada que me fez rir também.
E depois de 15 minutos, lá estava meu retrato no papel branco. Confesso que não achei a moça do desenho lá muito parecida comigo. Os olhos eram maiores. E o nariz não parecia lá muito o meu. Acho que a releitura não foi tão fiel a obra, mas ainda assim gostei. Eu sempre quis ter um desses pendurado na minha parede.
Paguei-lhe o valor previamente combinado e me despedi, enquanto minha fiel escudeira resmungava sobre o "velho rabugento" que me desenhara.
Entre uma compra e outra me bandiei para o metrô que nos levou até a Liberdade. Entrei num mercado, comprei um tal de "Tea Milk" cujo as instruções de preparo estão em japonês. Tomei um sorvete delicioso, andamos um bom pedaço, encontramos bolivianos (?), perguntei alguns preços e acabei por comprar uma blusa daquelas que o tecido lembra um cetim, de gola alta, cuja o nome eu não faço ideia de qual seja.
E é claro que, como saco vazio não para em pé...aventurei-me por entre as barracas da feira de domingo.
Na volta quase fui parar na Avenida Paulista, mas essa pretendo visitar só semana que vem. E depois de um debate sobre crianças no ônibus e uma briga de bêbado, retornamos sãs e salvas para nossos respectivos lares.

São Paulo pode ser cheia de defeitos e precariedades, mas ainda assim é apaixonante. A arquitetura dos prédios antigos, a miscigenação, cores, sons...I s2 São Paulo (hehe).

P.S.: Eu amo sampa, mas é claro que se você quiser me dar uma passagem pra Nova York...'tamo' ai (rs)