segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um bom ano



Finalmente um dos meus meses favoritos: dezembro.

O fim do ano não só encerra um período de 12 meses, mas mais que isso: encerra um ciclo.

A boa notícia? Eu e você sobrevivemos. Quantos mais especiais de natal do Roberto Carlos viveremos para assistir? Não faço a mínima idéia (idéia com acento por favor -ao menos por enquanto). O amanhã é a incógnita da equação que atende por vida, e para resolvê-la, ainda não encontraram fórmula alguma. Arrisco-me a dizer que tal fórmula não existe, entretanto continuo a buscá-la.

No geral não tenho do que reclamar desse ano que se acaba. Foi um bom ano.

Depois das constantes tormentas, a maré se acalmou e as coisas se ajeitaram em todos os aspectos da minha vida. Principalmente no aspecto pessoal. Do jeito delas é claro, mas se ajeitaram. Esse ano à mim mais parece uma espécie de consagração dos valores, princípios, alvos, paixões, aptidões e (por que não) utopias. E eu finalmente posso dizer não o que beltrano pensa ou no que ciclano crê, mas no que eu acredito. Verdades plenas ou falácias, elas são minhas.

No campo pessoal perdi muitas pessoas, é verdade. Muitos de mim se separaram em alguma esquina percorrida e agora habitam a minha caixa de lembranças apenas. Mas não me ressinto. Foi bom enquanto durou e isso me basta. Em contra partida, ganhei companheiros intangíveis que embora me escapem ao tato, sempre posso encontrá-los na estante de casa, nos cds nas prateleiras, ou em qualquer boa livraria. Aliás eu devia ter me aprofundado nessa tal de Bossa Nova antes.

Confesso que ao começar a rabiscar esse texto, pretendia dizer que não conheci ninguém esse ano. É verdade que passei a maior parte dele reclusa em mim mesma. Não por estar na fossa ou algo assim. Foi apenas um período que eu devia a mim mesma e que de fato foi muito bom, além do que abriu certo precedente. Minha melhor amiga sou eu mesma e às vezes até ela sobra.

Mas eu não seria justa se fizesse tal afirmação. Eu conheci pessoas sim. Nenhum "irmão camarada", mas me deparei com alguns seres humanos incríveis que graças a deus têm muito pra dizer e eu estou anciosa para escutar.

Revi muitos dos meus conceitos esse ano, e creio agora ter um parecer mais justo, aprofundado e razoável sobre eles.

Acima de tudo, 2011 me permitiu fazer algo que eu nunca fora capaz antes: me apresentar. Acho que finalmente eu sei o suficiente sobre a garota que vez por outra escreve neste cyberespaço. E quer saber? Eu gosto dela. Não se corrompe fácil e isso é bom.

E o melhor de tudo é que, embora pereca demagógico, eu tenho uma sensação incrível com relação a 2012. 2012 será, sem sombra de dúvidas um divisor de águas e eu tenho um ótimo pressentimento com relação a ele.

Feliz vida nova!


Seja bem-vinda eternidade. Deixei a porta da frente aberta para você entrar.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Minhas sinceras desculpas



Hoje decidi poluir este recinto com algo nada habitual. Este suscinto texto que compartilho nessa segunda-feira ensolarada tem a finalidade de transmitir minhas desculpas.

Muito provavelmente, a principal pessoa à quem se direciona esse pedido não o lerá, afinal, esse apanhado de textos bucólicos não estão a sua altura. Logo, eu entendo perfeitamente que não visite meu modesto blog. Mas, de qualquer maneira, aqui o deixo registrado, e os poucos que o lerem serão minhas testemunhas.


Eu já falei, repeti e reinterei que eu sou intimista e não é minha culpa ser assim. Perdoe-me se perdi a paciência para as carências e frivolidades explícitas. Não era minha intenção. Mas aconteceu. As coisas seguiram seu curso. Você com seu mundo cor de rosa. Eu desbravando meu universo paralelo. Quando se habita mundos distintos, as relações tendem a ser penalizadas.

Eu fui perdendo o interesse nas palavras mudas, nas embromações que carecem de conteúdo, na audição seletiva e na cegueira coletiva.

Minha tolerância foi diminuindo. Havia (e ainda há) muita mediocridade em toda a parte. E ela sempre anda acompanhada. Avareza sentimental, egolatria, conhecimento débil, propósitos volúveis e altivez engendrada por (de)méritos fazem parte do pacote. Pacote esse que seu mundo produziu e você fez questão de comprar em algumas parcelas sem juros.

Você fez a opção e agora leva a vida como um bon vivant. Minhas saudações.

Eu fui ouvir Cartola e comer uns petiscos naquele barzinho que você e seus amigos politicamente corretos da High Society julgam bonitinho, para pessoas revoltadinhas, com ideologiazinhas, com idéias demais e silicone de menos.

Eu fui virando água e você se transformou em óleo: viscoso, dourado, grudento, poluente.

Não encare como uma ofensa. Trata-se apenas de uma constatação.

E o final da ópera você já sabe. A homogenia se foi, meu bem. Não é minha nem sua culpa.

É só que o tempo passou, a noite caiu e agora cada uma deve seguir seu caminho: eu para o meu humilde botequinho. Você para sua festa ostensiva de Sabá.

Vá sem culpa, porque eu vou sem ela.

As utopias ocupam muito espaço, sabe?

Mas se ainda assim você permanece com a alma ferida por mim, por essa chucra aqui, não me resta nada a não ser lhe pedir minhas sinceras desculpas.

Sinto muito se te magoei. Não foi por mal.

Espero que quando você me vir da próxima vez, haja menos julgamento na íris de seus olhos.


Atenciosamente,

a garota que foi por aí levando um violão debaixo do braço, parando em cada esquina até avistar um barquinho a navegar no macio azul do mar e que é apenas um pobre amador.

Sobre um menino e um assassinato


Recentemente tive que prestar uma avaliação de técnica em redação, que, diga-se de passagem, salvou-me a vida (ao menos a acadêmica). A proposta consistia em escrever uma narração de no máximo 25 linhas que deveria terminar da seguinte maneira:

"A cena se esvaziou, com a dispersão do grupo. Passados 5 minutos, pé ante pé, o menino que provocara toda a confusão apareceu no alto da escada. Não restava ninguém. Ele deu uma risadinha e sumiu outra vez".

Confesso que eu particularmente detestei minha narração. Eu gosto muito de escrever narrações, o problema é que quando há um relógio a te pressionar e você depende da nota que seu texto vai angariar, nada sai tão bem como deveria. Mas, independente do que eu penso, a tal narração me rendeu um 10. Eu devo ter feito algo certo embora não tenha gostado dela. De qualquer maneira, aqui está ela. Julgue você.



P.S.: Eu não seria justa se terminasse meu texto e não desse crédito ao meu "muso" inspirador. Obrigada caro Humphrey Bogart. Devo dizer que "O Falcão Maltês" me deu 50% da narração. Vamos marcar qualquer dia um cinema? Dos antigos, é claro. Os de hoje esbanjam recursos, mas falta talento e bons roteiros.




"Infanticídio"



O crepúsculo já trazia a noite pela mão no pequeno vilarejo sulista quando a primeira viatura policial chegou ao local. Do céu sombrio cor de fuligem, não provinha luz alguma.

O detetive respirou fundo e saltou do veículo. A testa vincada. Atirou a bituca gasta de cigarro na calçada e apagou-a com o salto da botina. Sacou um bloco de notas do bolso e verificou a numeração. Aquele era o local do crime. Examinou os degraus de madeira carcomida e pisou sobre eles receoso, sorrateiro, com a elegância de um gato.


Forçou a maçaneta. A porta cedeu. Já estava aberta. Deu alguns passos até que o sussurro o interrompeu.

- Estou aqui detetive. - disse uma voz rouca atrás dele.

Detetive Marcondes se virou, e se recompondo do sobresalto, reconheceu aquela figura esquálida, quase fantasmagórica. "Elisa provavelmente...a tal viúva bizarra", pensou.

- Bem senhora, eu tenho que fazer algumas perguntas de rotina e...

- Não será necessário. Eu o matei. Um único tiro na cabeça, como o senhor já deve saber. Ele matou meu menino...meu filho! Ele tinha que pagar... - murmurou ela com o olhar vazio, longe.

- Mas como isso é possível? E onde está o cadáver do garoto? - interpelou o detetive atonito.

- Eu o enterrei ao lado da igreja. Meu menino...

O reforço policial irrompeu pela porta. Algemaram aquele vulto e o levaram dalí. Repentinamente, a janela da sala se estilhaçou. Marcondes se virou e no percurso dos olhos, viu um menino na escadaria. Olhou novamente aturdido: nada havia ali. "Devem ser as horas extras", cogitou.

A cena se esvaziou, com a dispersão do grupo. Passados 5 minutos, pé ante pé, o menino que provocara toda a confusão apareceu no alto da escada. Não restava ninguém. Ele deu uma risadinha e sumiu outra vez.






quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ateliê




Há períodos durante os quais não me vem nem sombra de inspiração. Nem se quer uma migalha dela cai ao meu lado. Parece que a minha alma sai de sintonia com o papel, e escrever uma misera frase torna-se para mim um dos 12 trabalhos de Hércules. Basicamente, produzir um texto imersa nessas condições se assemelha a tirar leite de pedra.


E, como consequência do branco total, passo dias, semanas, quando muito até meses sem conseguir desenvolver nem se quer um texto coeso, legível ou que fuja do lugar comum.


Tudo isso somado a síndrome do papel branco resulta em absolutamente nada.


Entretanto, de umas duas semanas para cá, o passarinho verde da inspiração, outrora tão arisco, parece ter pousada na minha janela, e dela ele vem se recusando a sair. O bom é que ele está perto o suficiente para me sussurrar algumas idéias.


O problema é que a matéria-prima, o produto bruto só não basta, e dentro do meu casulo estava insustentável lapidar tal matéria. Sendo assim, nada mais natural do que regressar ao meu ateliê.


Uma varanda da pisos cinza e paredes laterais vazadas. Esse sempre foi meu ateliê, meu porto seguro, meu esconderijo de criança. Quando o mundo fazia tudo lá fora ruir e aqui dentro latejar, era aqui que eu me escondia. E de frente para o céu, para as pipas que com ele de fundo dançavam marchinhas no ar, e para a maior árvore que eu vi na vida, apelidada "a maior árvore que eu vi na vida", eu deixava a caneta percorrer as folhas dos cadernos. E ali sempre havia tanto para pensar, questionar, escrever...


Fazia tempo que eu não vinha aqui. Há mais prédios agora. Eles roubam pedaços do horizonte. Há mais barulho na avenida também. Parece que o bairro cresceu. As casas no em torno também cresceram, bem como os garotos que costumavam empinar pipa nos telhados. A pequena pizzaria faliu, e não sai mais fumaça do forno a lenha as 17 horas.


A vizinha sagaz que sempre me saudava com um largo sorriso e da qual eu nunca soube o nome, agora raramente coloca o pé fora de casa. Os cabelos longos castanhos hoje em dia, vivem aprisionados em um coque cor de fuligem que emoldura um rosto vincad0 de rugas e marcas de expressão. Marcas do tempo. Tempo esse o responsável por ela nem mais me reconhecer.


Meus avós, os donos da varanda, com tudo, parecem os mesmos. Eles parecem não ter sentido a passagem dos anos. Minha avó continua sem uma ruga se quer. Magra, cabelos castanhos, e a pele sempre impecável. Meu avô parece um pouco cansado. Os olhos verdes, vez por outra, dão essa impressão. Mas ele continua a todo vapor. Ele faz menos piadas do que antes, é verdade. Talvez porque hoje eu já conheça todo seu repertório. Mas ele ainda tira uma com a minha cara cada vez que me vê, o que é uma prova clara de que seu bom humor continua ali, guardado atrás dos olhos verdes gentis.


E tem também a árvore. Ela continua lá, firme, forte e verde. Suas folhas ainda acenam para mim no compasso da brisa que anuncia chuva, o que prova que elas ainda me conhecem.



Resumindo, meu ateliê continua ali, a minha disposição, a minha espera, sempre pronto a me acolher como já fez tantas e tantas vezes.




Ele me escondeu do mundo e terei com ele uma dívida eterna que talvez esse texto diminua. Saldar seria muita pretensão, afinal, foi esse ateliê que me deu por anos a dádiva de me aproximar do céu.