segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre um menino e um assassinato


Recentemente tive que prestar uma avaliação de técnica em redação, que, diga-se de passagem, salvou-me a vida (ao menos a acadêmica). A proposta consistia em escrever uma narração de no máximo 25 linhas que deveria terminar da seguinte maneira:

"A cena se esvaziou, com a dispersão do grupo. Passados 5 minutos, pé ante pé, o menino que provocara toda a confusão apareceu no alto da escada. Não restava ninguém. Ele deu uma risadinha e sumiu outra vez".

Confesso que eu particularmente detestei minha narração. Eu gosto muito de escrever narrações, o problema é que quando há um relógio a te pressionar e você depende da nota que seu texto vai angariar, nada sai tão bem como deveria. Mas, independente do que eu penso, a tal narração me rendeu um 10. Eu devo ter feito algo certo embora não tenha gostado dela. De qualquer maneira, aqui está ela. Julgue você.



P.S.: Eu não seria justa se terminasse meu texto e não desse crédito ao meu "muso" inspirador. Obrigada caro Humphrey Bogart. Devo dizer que "O Falcão Maltês" me deu 50% da narração. Vamos marcar qualquer dia um cinema? Dos antigos, é claro. Os de hoje esbanjam recursos, mas falta talento e bons roteiros.




"Infanticídio"



O crepúsculo já trazia a noite pela mão no pequeno vilarejo sulista quando a primeira viatura policial chegou ao local. Do céu sombrio cor de fuligem, não provinha luz alguma.

O detetive respirou fundo e saltou do veículo. A testa vincada. Atirou a bituca gasta de cigarro na calçada e apagou-a com o salto da botina. Sacou um bloco de notas do bolso e verificou a numeração. Aquele era o local do crime. Examinou os degraus de madeira carcomida e pisou sobre eles receoso, sorrateiro, com a elegância de um gato.


Forçou a maçaneta. A porta cedeu. Já estava aberta. Deu alguns passos até que o sussurro o interrompeu.

- Estou aqui detetive. - disse uma voz rouca atrás dele.

Detetive Marcondes se virou, e se recompondo do sobresalto, reconheceu aquela figura esquálida, quase fantasmagórica. "Elisa provavelmente...a tal viúva bizarra", pensou.

- Bem senhora, eu tenho que fazer algumas perguntas de rotina e...

- Não será necessário. Eu o matei. Um único tiro na cabeça, como o senhor já deve saber. Ele matou meu menino...meu filho! Ele tinha que pagar... - murmurou ela com o olhar vazio, longe.

- Mas como isso é possível? E onde está o cadáver do garoto? - interpelou o detetive atonito.

- Eu o enterrei ao lado da igreja. Meu menino...

O reforço policial irrompeu pela porta. Algemaram aquele vulto e o levaram dalí. Repentinamente, a janela da sala se estilhaçou. Marcondes se virou e no percurso dos olhos, viu um menino na escadaria. Olhou novamente aturdido: nada havia ali. "Devem ser as horas extras", cogitou.

A cena se esvaziou, com a dispersão do grupo. Passados 5 minutos, pé ante pé, o menino que provocara toda a confusão apareceu no alto da escada. Não restava ninguém. Ele deu uma risadinha e sumiu outra vez.






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