segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pétala Seca de Rosa Vermelha



Provavelmente tanto eu quanto você concordaríamos que a mim não cabe a 'falta'. Entretanto, quem é que a concede?

Chegamos em um ponto em que as coisas aparentam terem se estabilizado de uma maneira absurdamente incômoda, mas pelo visto, esse é o melhor que você pode fazer, e o máximo que meu orgulho me permite retribuir.

O fato é que, um dia desses fui pegar um livro de poesias de Fernando Pessoa que há meses estava encostado em minha estante, e qual não foi minha surpresa quando ao folheá-lo, uma pétala vermelha seca plainou até tocar o chão. Fiquei segundos ou minutos ali, fitando a pétala que pra mim já deveria estar queimada, no lixo ou sabesse lá onde...em qualquer lugar, menos no meu livro de poesia favorito. Para mim foi como dar de cara com um fantasma. Talvez a analogia aparente ser esdrúxula, mas foi a melhor que encontrei.

E foi então que tudo se desenhou dentro de minha cabeça. As tardes quentes estirados no velho pátio de pedra. Os olhares furtivos. Os longos silêncios. A cumplicidade nos gestos mais sutis. Aquela última dança.

Admito que por um breve instante, você me fez falta. Melhor dizendo, você não. Senti falta daquele garoto desinibido, dócil e cativante. Era dele que eu gostava. E eu me recuso terminantemente em acreditar que aquele menino se tornou isso. Confesso que às vezes eu queria ter me despedido melhor daquele garoto. Ele me compreendia tão bem...Pena que já não é mais uma possibilidade.

Bem, a questão é que, meu amigo precisava de algo para enfeitar um presente para a namorada e viu a pétala seca na minha mão que para ele pareceu perfeita. Eu contei como ganhara aquela rosa e ele disse que não era justo eu me separar daquela pétala, mas eu fiz questão.

E dessa forma a pétala seca de rosa vermelha terminou no presente que a namorada dele por sinal achou lindo e super romântico por conter uma pétala seca.

Quem sabe aquela pétala não se torna um marco de boas lembranças para outro alguém?
Eu não preciso mais dela.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O arfar do vento



A noite era claramente indefinida. Nem quente, nem fria. Parecia ter ficado no meio do caminho, de modo a acabar por oferecer aquele clima mal resolvido, inacabado, pela metade.

De certa forma era como ela.

Interrompida, cessada de sopetão em algum capítulo que se perdera dos demais esboços e assim ficara por decisão irrevogável do autor.

A cor do cabelo e o porte físico eram irrelevantes, além do que não se sobressaíam, exceto pela pele pálida acentuada pela luz do luar que contrastava de forma gritante com os lábios rubros e com o vestido preto feito de algum tecido vagabundo, que contornava seu corpo esquálido e frágil.

Ali sentada, ela balançava os pés num compasso perfeito que jamais permitia que os oxfords surrados róseos tocassem o piso áspero. O movimento era ritimado, suave e tenso e ela nem se quer balbuciava.

Na realidade ela parecia já ter nascido ali, naquele banco cinza e rígido. Ela parecia parte do local, como se trouxesse uma certa essência gótica que garantia charme e personalidade ao lugar. Ela ornava com a penumbra e qualquer um que se deparasse com tal cena suporia que ela era parte da decoração.

Havia luz artificial. Havia gelo seco. Havia paixão. Havia vida. E havia 'ela'.

'Só mais um espéctro à procura das trevas' pensavam eles. 'Veias marcadas na certa' palpitavam outros.

Entretanto, ela nem se quer dava ouvidos.

E é digno de nota que, em meio a tantos palpites débeis, nem mesmo um observador um pouco mais persipicaz foi capaz de cogitar a hipótese de que talvez ela nem se quer estivesse mais ali. De fato não estava.

Os olhos amendoados fitavam o assoalho sem de fato o enxergar, enquanto a mente vagava pelo espaço a fora, dando piruetas no ar.

Ali, só a silhueta permanecia prostrada. A essência, o vento levara.

A gota que faltava




Saturada. Essa é a palavra de ordem.


Essa parece ser a semana do saco cheio, e cheio para mim neste momento é eufemismo.




Não vou desperdiçar meu tempo dando nome aos bois. Prefiro generalizar (a justiça da individualidade é ineficaz e desmerecida nesse contexto).


Estou farta de todas as pessoas que me rodeiam. Estou farta das pessoas que conheço, das que constantemente vejo, das com quem falo e até das que nunca vi.




A superficialidade parece ser uma característica comum à espécie humana, de modo que seria inútil continuar a procurar exceções a regra. A essa altura do campeonato acredito ser mais fácil acertar uma pedra na lua do que encontrar um ser humano mais profundo do que uma poça d'água.


As coisas assumiram uma uniformidade entediante e agora me sinto num labirinto medíocre.


A lógica ficou burra. Aliás, a lógica parece ter sido estabelecida por acéfalos, ao passo que tentar compreendê-la é inútil e beira o insano.


Talvez eu tenha ido longe demais. Talvez eu devesse me contentar com uma vida de ignorância em meio a pessoas mais ignorantes ainda. Talvez eu devesse calar a boca, dar por encerrado esse assunto, esse recinto, e dormir por todas as próximas primaveras. Talvez eu também devesse vender a alma visto que manter uma é debalde.


Talvez eu devesse colocar um ponto final aqui e enlouquecer em silêncio. Ponto Final.


'I don't care about clever I don't care about funny'