terça-feira, 27 de março de 2012

"There beneath the blue suburban skies"


Os espelhos refletem sua imagem quando de frente para o vazio.

A cada milésimo uma faceta. São desenhos fragmentados que como num lapso surrealista formam o seu eu sem jamais usar a lógica. Os olhos sempre ligados ao coração enquanto a boca reflete-se longe das maçãs do rosto. Você sempre foi o mais difícil dos enigmas e isso não se deve a pistas complexas demais e coesas de menos. Deve-se a duplicidade contida no enigma. Não é um, são dois. Não se pode decifrar um sem decifrar o outro, logo optei por não decifrar a ambos. Certas quimeras não devem permear nada além do incosciente. Neste sim é permitido correr, dançar, acenar e pular de penhascos para cair em nuvens, porém somente lá.

Assim, te fechei em uma caixa -imagens mentais, fatos, e palavras- uma pequena caixa de madeira que possui um bucólico mosaico na tampa. Sim, guardei-te ali dentro onde só eu saberei te encontrar, e enterrei a caixa sob um pé de qualquer coisa em um jardim que poucos de nós conhecem e te deixei ali para quem sabe um dia voltar e te decifrar.

Pode soar egoísta, e de fato o é, porém não me chateio com tal título. Sou egoísta. Eles são egoístas. Considera-te humano? Logo és egoísta. Tão egoísta quanto eu ou quanto eles. Nem melhor nem pior, apenas o mesmo amontoado de pó que o vento vez por outra trata de dissipar.

Entenda, eu jamais seria forte o suficiente para sustentar seu olhar.

Olhos belos assim têm suas desvantagens. Entregam rápido demais tudo o que a boca refreia dizer. A boca blasfema, os olhos não. Eles falam com pureza e sinceridade e são poucos os que aprendem a enlameá-los como com a boca que só repete o que murmura a razão.

Não me odeie. Não sou digna de seu ódio.

Quero entender o seu lado da equação, não o meu. Me basta o x, porém o y é fundamental em sua descoberta. Sendo assim, os leve com você, um em cada bolso, e um dia desses, quando São Paulo estiver sendo afagada por uma dessas chuvas rápidas de verão e você entrar em um desses Cafés aconchegantes de nossa cidade para tomar um chocolate, eu serei a moça de rabo de cavalo no canto do balcão pedindo um capuccino.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cogito ergo sum


"Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!

O único mistério é haver quem pense no mistério.

Quem está ao sol e fecha os olhos,

Começa a não saber o que é o sol

E a pensar muitas cousas cheias de calor." - Fernando Pessoa



De fato Sociologia e Filosofia são vertentes para as quais não há consumo seguro.

Ou você abstrai, deita a cabeça sobre a mesa e classifica tudo aquilo como bobagens sem finalidade alguma, ou você luta consigo mesmo para abrir sua mente e libertá-la dos sensos comuns, preconceitos e esteriótipos, principalmente o do sêlo científico.

O senso comum instaurado nos mais diversos âmbitos com relação a esses estudos resumesse a uma única palavra: inutilidade. Como abrir a mente para a Filosofia ou para a Sociologia estando imbuído até as entranhas com o conceito de que essas são matérias inferiores, sem serventia?

Esse tipo de opinião geral é mais uma evidência da já tão comentada banalização das faculdades de raciocínio, e nesse respeito, eu particularmente gostei muito de uma analogia feita pela minha professora de Sociologia esses dias. Parafraseando, ela disse algo mais ou menos assim: As pessoas valorizam muito mais a disciplina de Química do que a de Sociologia, por exemplo, julgando a segunda citada total falta do que fazer, porém eu nunca vi um átomo. Agora, a sociedade eu enxergo todos os dias.

A intenção aqui não é menosprezar a Química ou qualquer outra matéria. O exemplo dado por ela tem apenas o intuito de mostrar que um átomo é muito mais abstrato do que as teorias de estudo e compreensão do ser humano e da sociedade.

Fazendo minhas as palavras dela, eu também nunca vi um átomo (aliás nenhum de nós já viu), entretanto isso não rotula o estudo da Química como algo inútil e sem propósito. Porém em contraste com isso, me deparo com o bicho homem todo santo dia, religiosamente. Cada vez que olho ao redor enxergo a sociedade da qual sou parte. E como é possível fazer parte plenamente de uma sociedade e contribuir para o progresso desta sem entender o que isso envolve, quais seus fenômenos e processos?

O pensamento crítico é tão importante quanto o conhecimento científico, cada um na sua alçada.

Podemos adquirir todo o conhecimento científico do mundo. Sem pensamento crítico, continuaremos com os dois pés na lama afundando nossa sociedade cada vez mais na mediocridade e ignorância.

O conhecimento não ocupa espaço.