Vira e mexe eu ensaio monólogos em minha cabeça. Debato comigo mesma questões existenciais em seu âmago, sem o menor dos pudores, livre de qualquer preconceito que dê vasão ao 'politicamente correto'.
Nesses monólogos, enxergo a mim mesma com total nitidez, e às vezes, tanta sinceridade assusta.
Protelei um desses monólogos cujo o tema era justamente você. Pra falar a verdade, não sei ao certo o porquê de tanta relutância, mas tenho uma vaga ideia.
Acho que eu temi que a platéia me taxasse de Bentinho e me julgasse assim, com a mesma severidade que eu mesma julgo este casmurro.
Agora, depois de analisar os fatos com a cabeça fria e a maior imparcialidade possível, confesso que me encontro aliviada.
Não. Eu não fui o Bentinho. Muito menos a Capitu.
Talvez eu tenha sido Escobar, porém com um final menos trágico: não fui engolida pelo mar, embora meu corpo cansado pedisse por isso. Embora minha mente implorasse por se deixar levar.
Eu sempre repito que "ninguém é insubstituível", porém no íntimo, sempre estive convicta de que você representava a exceção a essa lei universal. Você sempre esteve por perto desde que eu me entendo por gente, e eu não sabia como era andar sem você para me segurar pela mão. Porém em meu julgamento percebi que você nunca o fizera por se preocupar comigo, mas sim para que eu fosse conveniente a você.
Tudo o que você fez por mim, não foi por mim, mas por você.
Há 8 meses atrás você era meu assunto favorito, minha música mais tocada. Você era único.
Seu nome foi rareando em minhas conversas. Os pesadelos com você antes constantes, foram tornando-se esporádicos até que por fim desapareceram. E hoje, 8 meses depois de todo aquele inferno cruel ao qual, de forma egoísta e sádica você me submeteu, se foi, tendo se tornado tão insignificantes quanto cascas no chão.
Você já não faz parte do meu repertório.
Você nunca foi o herói romântico. Você é o meu algoz, e te enfrentar me fez descobrir que eu não sou uma mera personagem secundária.
Eu sou a protagonista dessa história.
Enquanto você, só um capítulo inicial, antecedente aos inúmeros que virão e que trarão para mim um par não perfeito, mas que ao menos dignifique a tinta gasta pela caneta.
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