quinta-feira, 2 de maio de 2013

C'est la vie


E então você se foi.
Virou as costas e saiu em disparada sem ao menos se despedir. E assistir você partir me dilacerou.
Sei que não tenho o direito de sentir-me assim e tal ciência é ainda pior do que o sentimento em si, pois faz de mim um ser inúmeras vezes mais patético. Minha dor não é legítima, eu sei, de modo que nem lamentar-me aos seus ouvidos ou detestar-lhe em pequenas doses posso.
E foi por essa razão que achei por bem permanecer em silêncio. Deveras, a duras penas, cerrei os lábios e refreei-me de dizer tudo o que precisava dizer para aliviar meu ser, e fui escrever. Sim, pois o papel não registra nada do que para ele é ditado e não dita nada do que nele é escrito. Ante a esse argumento, não pude pensar em confidente melhor.
E assim, meio encabulada e com o coração pesado fui despejando na folha tudo aquilo que eu precisava dizer a alguém, mas que ninguém podia escutar.
Despejei sobre ele toda a minha angústia. Narrei-lhe aquela tarde de verão, descrevi como me lembrava de você. Como me lembrava da profundidade de seus olhos que me queimavam de longe e de como doía não retribuir seu olhar.
Escrevi naquela folha de papel tão compreensiva como você me fizera sentir, como você conseguira naqueles ínfimos segundos, despir-me de meus muros como ninguém conseguira em anos. Percebi que me recordava dos detalhes melhor do que eu supunha, e isso me doeu. As expectativas, os sorrisos e tudo o que disso nasceu foram apenas consequência.
Dito tudo isso, contei como tudo agora era turvo, doloroso e como meu peito latejava incessantemente. O coração doía tanto que faltava-me o ar para preencher os pulmões e a culpa, bem a culpa estava por toda parte. A minha culpa.
Tentei terminar o texto, mas acabei por deixar parte do papel em branco. A falta de vida daquela folha fora a melhor metáfora que eu encontrara.

"Nossa dor não advém das coisas vividas,
Mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram."
(Carlos Drummond de Andrade)

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