domingo, 28 de abril de 2013

New Dawn


E então tranquei-me em mim mesma. Há muito protelava esse embate. Fitar a imagem que se desenha no espelho é fácil, árduo é olhar para o que está dentro sem ceder ao ímpeto de fechar os olhos.
E é por possuir tal consciência que não condeno aqueles que não olham para dentro. Encarar o âmago é um processo lento que nem todos possuem força para realizar. Não os culpo. Ter a capacidade de digerir e discernir a realidade não é um dom, é (salvo exceções) uma maldição.
O fato é que, há um bom tempo vinha fugindo de mim mesma, procrastinando o inevitável encontro. Passei meses esgueirando-me de mim, me ocultando na penumbra. Levei a vida assim até onde deu, tateando no escuro até que a luz se fez imprescindível. Chega uma hora que a gente pede a gente mesmo e então, continuar fugindo é besteira.
Bem, essa hora chegou e aí restou-me olhar para dentro.
Foi então que, para a minha surpresa não me reconheci. Logo eu que sempre fui tão cheia de saberes e autoconhecimento me tornei uma estranha de mim mesma. O susto foi tamanho que me aproximei do espelho (como se a contiguidade contribuísse para a boa leitura do quadro geral).
E aos poucos, olhando com mais calma, fui reconhecendo-me nos detalhes, num franzir de cenho, numa feição de contentamento, num gesticular de inquietude, numa piscadela de satisfação. Sim, eu continuava ali, nos pequenos gestos, no ímpeto fugaz e isso me bastou. Não, eu não me esvai de mim mesma. Minha essência continuava ali, no lugar ao qual ela pertencia, e eu me senti em casa.

"And this old world is a new world and a bold world for me" (Nina Simone)

2 comentários:

  1. Leia a Paixão de GH, da ilustríssima Lispector. Você vai acabar por se encontrar.

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