terça-feira, 9 de agosto de 2011

À Deriva



Eis que tenho para mim mesma todas essas como verdades.


Sim, eu sou mal-resolvida. Consisto em um apanhado de palavras vãs, frases subentendidas e promessas interrompidas. Me enquadro no quase: quase segura, quase sóbria. Quase aceitável quase eloquente. Quase afável quase atraente. Quase esperada, quase quista. Quase isso, quase aquilo outro. Quase péssima quase boa o bastante.

O "quase" me precede. O "se" me justifica.

O imperativo circunda apenas meus desabores e destemperos (sendo estes constantemente atrelados ao meu tórrido e insustentável gênio).

Inoportuna, atroz, descabida, eufônica. À mercê, disponível. Indefesa, azeda. Intragável. Um trago.

Eu sou melhor a distância, e só ela me permite ser. Próxima sou desastrosa, insuportável.



Sou um disco de Rock riscado. Sou uma criança com os braços ralados. Sou um gato escaldado. Um brinquedo velho quebrado. Sou um céu nublado que jamais será azul e ensolarado. Sou uma garotinha que odeia rosa. Sou uma bússola que aponta para lugar nenhum.

Sou uma obra disléxcica, um Renoir manchado. Uma bailarina de pés amarrados. Sou um diagnóstico inconclusivo.

Um pedaço de papel chamuscado.

Enrolado, apagado, reescrito, amassado, pisoteado, reutilizado. Descartado de novo.



Sou aquela garoa fina terrivelmente gelada de inverno. De longe imperceptível. De perto insuportável.

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